O que te faz feliz?
- Jéssica V. Ciasca
- 13 de mar. de 2018
- 5 min de leitura
Ja parou para pensar sobre o que realmente te faz feliz? Passamos tanto tempo pensando na felicidade dos outros que muitas vezes esquecemos de nós mesmos...

Eu, em meio as minhas crises existenciais de estar chegando aos 30, sem ter realizado quase nada do que tinha sonhado quando tinha 15, passei a me perguntar o que de fato me fazia feliz. Então, entendi qual era meu grande problema: eu literalmente não sabia o que me fazia feliz.
Quando aprofundei ainda mais essas perguntas em meio a sessões de terapia (sim, terapia, porque sou PHYNA, honney) compreendi que é muito difícil entender o que te faz feliz sem se conhecer muito bem.
Fazendo uma reflexão superficial da minha vida, conclui que os últimos 13 anos foram dedicados a coisas e pessoas alheias: Dediquei aos incríveis 4 namoros longos que tive, dediquei ao trabalho em que estou a 7 anos, dediquei a faculdade que levou 6 anos e meio para ser finalizada, dediquei a duas pós-graduações, dediquei a aprender inglês, dediquei a comprar coisas que muitas vezes nem precisava.... Mas, qual parte desse tempo de fato foi plenamente dedicada a coisas em que eu tinha prazer em realizar, não por obrigação?
Somos condicionados a buscar coisas e pessoas que nos completem na falsa ideia de que assim iremos encontrar a felicidade. De forma inconsciente, fazemos da nossa vida um incrível cronograma de coisas a se alcançar, como se isso fosse o sinônimo de felicidade: forme-se até 24, case-se até os 30, tenha filhos, compre uma casa, compre um carro, seja bem-sucedido profissionalmente... é um verdadeiro bombardeio de verbos de ação: seja, faça, case, compre... Mas quando esse cronograma se altera ou não se cumpre, nos sentimos fracassados. E não estamos acostumados a lidar com fracassos.
Então, você se vê com quase 30 e não tem a sua casa, não sabe ainda se um dia quer ser mãe, não atingiu o sucesso profissional que se espera e a cada dia se sente mais distante da possibilidade de se casar. Fracasso total! E agora? Agora você percebe que isso não significa absolutamente nada.
Talvez você conclua que essa vida perfeitinha de novela lhe faz feliz e seguirá sua jornada contente. Talvez, assim como eu, você também conclua que essa vidinha pode até ser bacana, mas está bem longe de ser o sinônimo de felicidade.
Depois de muito ‘bater cabeça’ e achar por mil vezes que meus problemas eram insolúveis e maiores do que o resto dos problemas do mundo (claro, porque o meu coração partido era muito mais incurável do que todos os outros problemas da Terra) resolvi sair do fundo do poço em que me encontrava emocionalmente e buscar compreender melhor a mim mesma.
Porque nunca nos dizem que somos completos por nós mesmos? Que é furada ter algo que não precisamos ou ser algo que não somos? Essa reposta é fácil: porque comercialmente isso não é vantajoso. Numa sociedade habituada a vender e comprar ‘resultados’, quanto menos você valorizar o caminho, melhor. Eu explico: Desejamos o corpo perfeito que é imposto na mídia, mas não queremos malhar todos os dias, abrir mão de sábados de pizza e domingos de churrasco regados a chopp. Não queremos o esforço atrelado aos gominhos no abdômen, mas queremos ter o abdômen, porque o ‘ter’ é bacana. Logo, compramos shakes milagrosos, aparelhos que tonificam os músculos sem esforço, pílulas revolucionárias que tiram a fome, cremes para gordura, celulites, estrias, cicatrizes... porque queremos o resultado e o mais breve possível, por favor! E quando ele não chega? Fracasso total! E a culpa nunca é nossa.. é sempre do remédio que não fez efeito, do creme que não era bom, do aparelho que tonifica que estava fraco... assumir nossa responsabilidade? Nunca...
Foi então que eu despertei para a realidade. Não tem problema nenhum em não seguir os padrões dos outros, mas usar uma máscara para não seguir a sua essência, é um enorme problema. E quantas vezes não fazemos isso? Quantas vezes não nos adaptamos às pessoas pois queremos ser amados, promovidos, escolhidos ou queridos? Quantas vezes deixamos nossos valores e aspirações de lado para sermos algo que não somos? Quantas vezes não fazemos coisas para agradar os outros, mesmo que não seja isso o que queremos?
Nossa incrível obsessão em sermos aceitos nos torna infeliz. Por muito tempo ouvi que sou uma pessoa com ‘personalidade forte’. Internalizei desde pequena que isso significava que era uma pessoa muito difícil (ou impossível) de se lidar. E todas as vezes que entrava em discussões, por qualquer que fosse a razão, sempre havia um ‘ser’ que deixava bem claro que a discussão só ocorreu porque eu era muito geniosa. Logo, tendi a ‘não ser tão geniosa assim...’ para que enfim eu pudesse ser ‘aceita’ no mundo. E o que isso me gerou? O oposto: Infelicidade.
O ‘não ser tão geniosa assim’ passou a ser sinônimo de ceder. Eu cedi a não usar as roupas que gostava, a não me maquiar como gostava, a não ver os meus amigos com maior frequência, a não ver outros amigos, a não questionar pontos de vistas, a avisar sobre todos os passos que eu dava, a não fazer nada sozinha para não parecer individualista.... Quando me dei por mim, não era mais eu mesma. Me tornei alguém em que não me orgulhava de ser, mas era bem ‘aceita’ pelos outros.
O que ninguém ressalta é o quanto a ‘personalidade forte’ também é positiva. Essa personalidade é o que me faz uma pessoa determinada, que não suporta ‘meias verdades’, que faz o que é necessário quando necessário, que traça um objetivo e vai atrás, que me fez escolher uma profissão majoritariamente masculina e não desistir, que me faz querer transformar o mundo e a mim mesma constantemente e que sabe muito bem o que quer para si.
Quando me aceitei assim, sendo como sou, uma mulher de personalidade forte, passei a entender que eu não preciso mudar para ser aceita por ninguém. Entendi que a menina de 15 não sabia nada da vida e de todos os obstáculos que viriam pela frente. Passei a me conhecer melhor e ser minha melhor amiga, não meu pior carrasco. Passei a dedicar tempo para fazer tudo aquilo que gosto, seja ler um livro tosco de autoajuda, correr no parque tentando me superar, conversar por horas a fio sobre assuntos aleatórios com os meus amigos, chegar em casa e ver o sorriso dos meus sobrinhos porque está cedo e vou poder ficar com eles. Passei a rir das coisas que deram errado e ver que o amanhã reserva algo melhor – mesmo que esse amanhã não seja lá tão próximo. Logo, passei a entender o que me faz feliz... e não é seguir o cronograma perfeitinho da vida, mas seguir meus próprios passos, no meu tempo, do meu jeito... e quem quiser estar comigo nessa jornada, será sempre bem-vindo.
Comments